O que fez para eu sentir tanta saudade assim? Às vezes me
pego distraído, olhando para o teto à procura de seu rosto. Permaneço no
escuro, mergulhado no silêncio, tentando ouvir o seu sorriso. Somos tão
diferentes em tantas coisas... Enquanto se joga no seu querer, guardo o meu
dentro da timidez. Talvez tenha medo de ter um ombro como o seu para acolher-me
e depois, por qualquer motivo, encontrar-me no vazio. Não seria a primeira vez
tamanha decepção. O sofredor sabe o que acorda sua dor.
Mas mesmo assim, ainda quero um amor maior que o dos poetas.
Viver intensamente por mais que seja efêmero. Fazer o que se a carência
transborda e torna-se rio? Navego em mim espalhando para longe a tormenta
deixada por tantas. Quero sim, um amor grande, daqueles que só percebemos
quando não dá mais para fugir. Asas podadas para um caminhar seguro.
A luz seria menos clara se não fosse você. Os meus olhos
descansam em sonhos quando têm os seus como guia em noites sem lua. Sou e acho
que sempre serei um menino equilibrando o seu corpo sobre muros velhos e craquelados.
Ladrão de frutos alheios. Vapor dissipado para não ser encontrado. Ave volátil
que migra à procura de novos ninhos. Confuso? Ambíguo? Contraditório? Talvez...
Nunca me achei perfeito. O meu espelho deixou de ter aço há tempo. Prefiro
olhar-me através de outras retinas – torno-me verdade e amor.
Hoje, aprisiono-me em pensamentos. Guardo o meu desejo na
alma. Quem sabe um dia, tudo isso acabe e eu volte a flutuar? Que o fim esteja
longe e eu encontre, nesse ínterim, outros caminhos para voar na direção do meu
querer. Estou carente de ar; carente de amor; carente de você. Quero voltar a
sonhar-te, mesmo que seja no calor do meio dia. E que a dor futura valha a pena
depois da efemeridade do amor vivido.
Não quero permanecer tanto tempo no escuro, tenho medo de nunca
mais enxergar.