As minhas viagens são outras. Irene adora viajar. Recebi uma mensagem dela, pedindo para confirmar o meu endereço. Poucos dias depois, estava recebendo de presente dois cachecóis e uma boina de Lima. De quando em vez, ela lembra de mim e presenteia-me com algo legal. Os meus incensários vieram de Minas, alguns chapéus foram presentes dela quando foi à Europa. Irene está sempre por aqui. As minhas refeições são coloridas quando uso meu jogo americano feito de sisal tingido vindo do Nordeste. Mas o presente maior é a nossa amizade. Impossível não rir com ela. Até os seus dramas são engraçados. Gosto muito de conversar com ela, não há tema proibido. Somos francos, cúmplices. Ultimamente estamos nos falando pouco. Aliás, ando falando pouco com todos. Ainda não me recuperei totalmente da pandemia. Sorte que os amigos me conhecem e respeitam o meu isolamento. Todos sabem que seis pessoas reunidas pra mim é multidão.
Ontem, recusei um convite de Valéria. A Claudia já não
convida mais. Mas elas sabem que gosto mesmo é de uma boa conversa olho no
olho; tête-à-tête.
Num ambiente com muitas pessoas, procuro um nicho, deixo de
participar e passo a observar. Viajo quando isso acontece. Às vezes, pegam-me
fazendo caras e bocas. A viagem é tão grande que só o meu ectoplasma permanece
no recinto. Já estou longe com os meus pensamentos fantasiosos. Fazer o quê?
Gosto muito dessas minhas viagens. Como diz na letra da música dos titãs:
¨Não é pior do que parece
ser
Foda-se! ¨
Como disse antes, as minhas
viagens são outras. Vou aproveitar e acender um incenso, que a Claudia me deu,
enquanto leio alguns textos de Valeria.