Quando me via sozinho, era um desespero sem fim. O coração
acelerava, a boca ficava sedenta e os fantasmas apareciam. Mesmo sabendo que
era uma solidão temporária, não admitia, de jeito nenhum, aquele abandono.
Então o choro vinha acompanhado de soluços nervosos, ora contínuos, ora
intermitentes. Chorava até cansar. Adormecia numa piscina de emoções.
Os abandonos foram tantos que passei a chorar menos, a
soluçar menos e a admitir a condição de criança abandonada, embora soubesse que
ficar em casa era a melhor opção. Dramático?! Talvez! Mas foi a partir dessa
prática que não ouvi mais a frase que homem não chora - criei uma carcaça
protetora. Daí passei a chorar por dentro, a soluçar por dentro e os fantasmas
apareciam com menos frequência.
Acreditei que estava recuperado daquilo que todos discriminavam. Que
esconder as lágrimas fazia-me mais forte, mais homem – mesmo sendo um menino.
Confesso que demorei pra entender que podia chorar, que podia soluçar. Que ser
homem é demonstrar sentimentos de verdade. Que faz parte da condição humana.
A dor foi grande quando o amor partiu. Não só chorei como
urrei feito um lobo solitário no alto de uma montanha numa noite fria de lua
cheia. Chorei por horas, por dias, por meses, chorei alagando o mundo. Chorei
querendo colo.
Dor de amor corrói o brio. Difícil de curar. E quando a dor
dá lugar a solidão, torna-se nítido a sofrença guardada. Hoje, depois de muito
tempo, tornei-me professor de mim mesmo.
- Não adianta, todo amor curado deixa cicatriz.