Não dá mais pra
adiar. Entro na cozinha e vejo a louça empilhada na pia. Não tenho problema em
lavar louças, até gosto. Mas tem dias que até o que gosto quero longe de mim.
Como dizem por aí que quem canta seus males espanta, ligo o som e começo a
lavaria – emulsificando os engordurados, dando brilho no inox. Em poucos
minutos tudo lavado; a harmonia sempre volta depois do caos. Um suspiro de
alívio e um sorriso de satisfação sempre chegam depois de uma tarefa feita.
Quando posso,
adio mesmo. Os amigos não contam mais comigo. Convidam sabendo que dificilmente
irei. Eventos corporativos nem pensar. Festinha de empresa de final de ano
quando aparecia era por pura obrigação, nunca por educação. Na primeira
oportunidade saía à francesa. Hoje, nem uma coisa nem outra. Simplesmente digo
não. Deixo os burburinhos para os outros. Adoro meu silêncio, minha rede, minha
varanda e meus livros.
Ultimamente
ando procrastinando quase tudo: em visitar uns, em receber outros. Estou sempre
adiando alguma coisa. Não é mesmo, Maria?!
Hoje a natureza
foi minha cúmplice. A listinha de tarefas foi adiada porque choveu pesadamente
e continua. Restou-me escrever o texto, assistir alguns filmes e até ligar pra
a amiga Irene.
Agora estou
aqui ouvindo a chuva batendo na calçada. Incidental nesse meu mundo tão
previsível.