Ainda chove. Há camadas e mais
camadas de nuvens indefinidas, pálidas e aguadas sobre a minha cabeça. O céu está insosso. Definitivamente no céu da minha boca não há
estrelas, não há sol, somente esperança.
Ainda carrego comigo as angustias
do passado de quando a chuva vinha e ficava sem hora pra ir embora. Criança
gosta de sol e vento. Não gosta de chuva, não gosta de sentir-se presa, ela tem
asas, gosta de voar.
Mesmo hoje morando na serra,
carrego em meu código genético o mar. Mesmo respirando ares perfumados, guardo
comigo o cheiro das algas marinhas.
Ainda chove. Chove sem parar. Chove o desespero da noiva, a esperança da
viúva, a fome do ambulante, chove na cabeça do turista, chove inutilmente no rio.
E se aqui chove tanto, nem tanto chove por lá – há secura no sertão, rachaduras
na pele, poeira no chão.
Na janela da donzela o pensamento
se torna cinza, entre as frestas da veneziana seus olhos competem com a chuva.
Não há malandros à procura, somente passos apressados e pretos guarda-chuvas.
Minha alma anda encharcada. O
tempo não dá trégua. Durmo e acordo com pingos musicais. E como não tem jeito,
não posso me transportar de corpo presente para lugares quentes. viajo em histórias
contadas de dias ensolarados guardadas em minha estante.
Ainda chove uma chuva fininha,
persistente, que nos convida a ficar debaixo das cobertas. Mas como a angustia
não me faz dormir, fico por aqui, em minha rede nordestina, pensando numa
maneira de voar até você.
Paulo Francisco
Em vez de tapete mágico, deviam ter inventado uma rede mágica. E o voo estaria garantido.
ResponderExcluirGostei. beijo
Estou pertinho de ti ,por isso chove também.O dia inteiro.
ResponderExcluirE esfriou na madrugada_ tudo colabora para um bom abraço,
mando-te alguns para aquece-lo enquanto o sol nao vem.