Motivo

Eu poderia ter nascido pedra, mas Deus me quis assim: homem. E como homem,  tento fazer a minha parte neste mundo que não é meu. Sim, o mundo não é nosso - engana-se aquele que pensa que é. O mundo é muito mais dos outros que por aqui habitam; eles chegaram, nesta Terra primeiro – É fato, não vamos discordar. Seres tão inferiores segundo nós e tão mais fortes, segundo Deus. O homem não é o Rei do mundo, ele é um visitante com hora marcada de chegada e partida. Sua casa é em outro lugar. Assim espero.

Eu poderia ter nascido Pedro, mas minha mãe me quis Paulo, Paulo Francisco. E com o meu nome,  vou me levando por aí, às vezes em pisadas firmes, como as do guerreiro em marcha ao campo de batalha; outras vezes, com andar cambaleante como a do bêbado ao voltar pra casa.  Mas do que eu gosto mesmo, é de navegar em ares quentes, totalmente desnudo de tudo. Sem uma marca sequer que venha me lembrar de outros caminhos que não seja aquele por onde ainda terei de chegar.

Espere por mim, estarei chegando depois daquela nuvem com formato de coração – basta atravessá-la para alcançar o seu. Enquanto isso, cê vai ouvindo o meu ribombar cada vez mais alto, avisando ao mundo que, um dia, serei teu.

Eu poderia, simplesmente, não ter nascido, ter ficado na esperança de um ventre seco, ou varrido do útero antes do tempo. Mas não foi o que aconteceu - Nasci e estou aqui pra te amar cada vez mais.

Nasço a cada manhã surgida, navego em raios refletidos e sigo com eles, o caminho da vida. Nasço a cada palavra tua e escrevo o meu nome junto ao teu. Somos nós.

Vivo em esperanças traçadas e tento com as minhas mãos alcançá-las. E alcançá-la-ei, eu sei.

Pego as mais longínquas imagens e faço delas as minhas companheiras de sonhos doces em brincadeiras de crianças.

Éramos infantes sem coroa, numa terra encantada de meninos e meninas que brincavam num habitat de flores e frutos. Caminhávamos de flor em flor, como os beija-flores, à procura do néctar ainda não bebido; carregávamos os frutos nas mãos, como os pássaros as carregam em seus bicos. Éramos dispersores naturais, semeadores de futuros e, naturalmente, habitantes de um mundo onde a certeza era somente o brincar.

Na passagem do tempo, do meu tempo, não fui aquele infante que muitos queriam – Lamento, sou um só!

Fardei-me com outras divisas, marchei em outra direção, lutei com armas invisíveis e abati centenas de algozes que em mim habitavam. Fui um infante à frente da batalha. Carreguei a bandeira da vida e sobrevivi com ela em meu coração. Coração que retumba amor. Retumba sim! Retumba.

Hoje, dispo-me das armaduras pesadas e caminho entre nuvens. Faço uma nova estrada – tenho a direção. Fardo-me com flores em meu peito, cerro em minhas mãos os meus desejos e caminho junto ao vento em visitas clandestinas. Tomo banho de chuva, aqueço-me ao sol, deito-me na relva à espera do surgimento da lua. Choro, rio, sem medo, sem vergonha de ser romântico.

Eu poderia ter nascido morto, mas Ele me quis vivo.

Vida! ? Foi Deus quem me deu. Se não está satisfeito com a minha, reclame com Ele. Mas antes de fazê-lo pense primeiro qual foi o objetivo Dele ao conceber a tua.

Eu poderia ter nascido pássaro, mas Deus me quis assim: Gente!



Paulo Francisco

4 comentários:

  1. Estou no trabalho ouvindo a música Homem, cantada por Roberto Carlos. Acho que foi uma boa trilha sonora para este texto.
    Faço um trabalho chatinho, e ao ver o blog atualizado me permiti a pausa. Me faz bem.
    Pela a forma que cria os textos, é um homem-gente-Paulo Francisco, com asas na imaginação. Uma forma de voar e fazer voar.
    beijo de asas.

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  2. Pois é Paulo, a Paula disse muito! Você escreve como pensa, talvez! Isso é muito bonito. Você não é uma pedra, talvez um pássaro... Abraço

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  3. Oi Paulo,até quem não te conhece sabe!!Você é Uma ótima pessoa!!
    É só ler os seus texto...Existem pessoas que consegue enganar, mas você não engana,você é transparente.
    Boa tarde.

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  4. Esqueci de dizer:Amei seu texto,muito bom !
    Beijinhos.

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