Todos pensam que o bar é minha biblioteca. Confesso que botecos de quinta são bons sebos. Mas a minha sala de leitura é de céu aberto - não há silêncio; tem muita gente e cada um tem o seu jeito peculiar de ser. São exemplares únicos. Cada qual no seu formato. São raros e não tem fim. Adoro pontos de ônibus. Neles uso, muita vezes, a minha caneta e o meu bloco de anotações. É ali que consigo ter uma variedade de almas, pensamentos diversos e metas diferentes. Sou um abelhudo num ponto qualquer. Não me incomodo em esperar – nunca tenho pressa quando estou à espera de um ônibus e de uma história.
Hoje, em particular, fiquei um tempo enorme observando um garoto e seu pai. Pela quantidade de porquês, o moleque não passava de oito anos. Ele estava ávido por respostas. O menino, agitadíssimo, tentava tirar o máximo de proveito daquele interrogatório. O pai era a sua biblioteca; a sua internet.
Clica no pai e aparecerá uma resposta e a imaginação fluirá.
Parei a minha leitura e fiquei silencioso, atento às perguntas do menino:
- Pai, por que não temos mais dinossauros?
Fiquei esperando a resposta do camarada, que estava de cócoras, encostado ao muro, bem próximo ao filho.
- Bem...a tartaruga e o jacaré são dinossauros sobreviventes...
- Sããããão!?
- Sim, naquela época eles já existiam e eram enormes.
- Masss pai, o tiranossauro rex era um cachorro?
O pai ficou mudo. Não soube responder ou entender a piada do moleque.
O menino completa:
- Ele parece um cachorro com aquelas patinhas da frente (risos)
Mais perguntas:
- Pai, por que os dinossauros morreram? Eles eram tão grandes!.
Nenhuma resposta. O homem olhou pra o menino, mexeu em seu casaco, colocou a mão em seu queixo, como se quisesse dizer: ¨- Passo! Manda outra!¨
Estava ficando agoniado com as perguntas jogadas ao vento. O Google naquele momento estava fora do ar - a net estava lenta.
Mais outra, no mesmo assunto;
- Pai, se os animais pequenos conseguiram sobreviver, por que os dinossauros não? – o menino insistia. Ele queria que o seu herói respondesse ou, simplesmente confirmasse que a professora estava certa.
A cada pergunta do curioso, eu respondia silenciosamente. Sabia tudo sobre aquele assunto. Mas sabia também que não podia responder àquele exercício entre pai e filho.
O ônibus chegou e eles partiram.
Sorri. Era um sorriso de satisfação e de recordações. Não me lembro dos meus porquês. Sabia que não tinha ninguém que me responderia sobre céu e estrelas. Acho que eu não era um menino perguntador e sim um pequeno observador.
O meu filho nunca se interessou por dinossauros; nunca teve interesse pelo mundo animal ou vegetal e nem tampouco olhou para o céu. Ele é eletrônico. Enfeita-se de telas, joysticks, pendrives e botões com start, play e pause. E as nossas conversas de iguais, só acontecem após uma peça, um cinema ou um show.
E eu agora estou aprendendo sobre futebol.
Um dia desses, ele estava atrás de mim, lendo o que escrevia em meu laptop e disse:
- Sabe, tô até gostando de poesia!.
Olhei para trás e respondi:
- Que bom, bacana! Que bom... quer fazer uma comigo?
Ele respondeu:
- Ainda não, não estou preparado ainda.
Voltou para o puff e começou a apertar aquele objeto cheio de botões coloridos.
Apertei o meu play e viajei num texto.
Paulo Francisco